segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DIVERSAS ESTROFES DE CANTADORES

CANTADORES, REPENTISTAS E POETAS POPULARES


Livro de JOSÉ ALVES SOBRINHO, lançado em 26/07/2003, em João Pessoa – PB.

Belíssimas estrofes extraídas do LIVRO:



JOSÉ ALVES SOBRINHO

No nordeste brasileiro

da Bahia ao Maranhão,

do litoral ao sertão

encontram-se os violeiros

e os poetas folheteiros,

as mãos cheias de exemplares,

poemas, trovas, cantares

feitos por esses artistas:

Cantadores, Repentistas

e Poetas Populares.



LOURIVAL BATISTA

Um cientista profundo

perguntou-me certa vez,

se eu conhecia os três

desmantelos deste mundo.

Eu respondi num segundo:

DOIDO, MULHER E LADRÃO.

E disse mais a razão:

doido não tem paciência,

ladrão não tem consciência,

MULHER NÃO TEM CORAÇÃO.



SERRA BRANCA

Limeira meu negro velho,

você está em perigo:

um homem de sua idade,

quando vem cantar comigo,

só corta por onde eu risco,

só engole o que eu mastigo.



ZÉ LIMEIRA

Você cantando comigo,

o sacrifício é maior:

porque não canta improviso

nem sabe nada de cor,

quanto mais você se apura,

mais eu lhe acho pior.



ANTÔNIO NUNES DE SÁ

Vivo aqui, muito distante

da minha terra querida,

já vivi da minha vida

a parte mais importante,

porém como sou amante

das coisas do meu rincão,

guardo no meu coração

o que vi na mocidade.

Eu tenho muita saudade

do meu querido sertão.



OTÁVIO PINHEIRO FILHO

Teus olhos acastanhados,

tua boca angelical,

teu sorriso sensual

e teus lábios carminados,

teus cabelos ondulados,

tudo em perfeita harmonia,

tudo teu tem poesia

e me provoca o desejo

profundo de dar-te um beijo.

Deixa beijar-te Maria.



JOSÉ ALVES SOBRINHO

Brasil de caracaxá,

do quengo, do cacareco,

do fole, do reco-reco,

do pandeiro, do ganzá,

do chibé, do aluá,

baião de dois, rubacão,

da farofa, do pirão,

da tapioca de coco,...

Este é Brasil de caboco,

de mãe preta e pai João.



JOSÉ ALVES SOBRINHO

Cantando sempre vivi,

o cantar me dá prazer,

cantando hei de morrer,

porque chorando nasci,

chorando sempre perdi,

quero cantar até quando

Deus quiser, sempre sonhando,

sem gemer e sem chorar,

Cantando hei de encontrar

tudo que perdi chorando.



OTACÍLIO BATISTA

Somos três irmãos poetas,

três cantadores iguais,

no repente, na colcheia,

e em rimas colossais,

pode chegar cantador,

que nós três cantamos mais.



JOSÉ ALVES SOBRINHO

Vocês três são desiguais:

Dimas sé tem teoria,

Lourival é repentista,

porém não tem melodia,

você é melodioso,

mas tem pouca poesia.



JOÃO SILVEIRA

Hoje aqui se comemora

duas datas importantes:

Pai e filho neste dia

são aniversariantes,

nós precisamos saudar

os dois nataliciantes.



JOSÉ ALVES SOBRINHO

Dois aniversariantes,

em idades diferentes:

o pai está entre os adultos,

o filho entre os inocentes,

o pai mudando os cabelos,

o filho mudando os dentes.



CANHOTINHO

Sei que hei de morrer um dia

isto é que queira quer não,

mas sei que quando partir

os meus versos ficarão,

passando de boca em boca,

meu nome de mão em mão.



MANOEL GALDINO BANDEIRA

Manoel Galdino Bandeira

de São José de Piranha,

dá grito no pé da serra,

chega estremece a montanha,

cantador nas minhas unhas

ou corre ou morre ou apanha.



PINTO DE MONTEIRO

Eu como ando em companha,

no solo paraibano,

se eu pegar sua bandeira,

queimo a haste e rasgo o pano,

que o remendo menor,

pra costurar leva um ano.



JOÃO FURIBA

Pinto velho de Monteiro,

de anos tem quase cem,

viveu sem juntar dinheiro,

não vai deixar um vintém,

que o povo da terra dele

não dá a mão a ninguém.



PINTO DE MONTEIRO

Eu conheço muito bem

a sua taquaritinga:

em cima só tem lajedo

e embaixo é só caatinga,

em cima nunca choveu,

no pé da serra não pinga.



BIU GOMES

O sabiá do sertão

faz coisa que me comove:

passa três meses cantando

e sem cantar passa nove,

como que se preparando,

pra só cantar quando chove.



JÓ PATRIOTA

No jogo do improviso,

sou artista competente,

traço o baralho dos versos

e sei jogar meu repente,

no pife-pafe das rimas,

ninguém bate em minha frente.



MANOEL SOARES

Eu sou mais experiente

e você se desapruma,

trace o baralho das rimas,

que eu corto em cima, na ruma,

jogo com dois melés,

você não te nenhuma.



OLÍVIO JOSÉ DE OLIVEIRA

Sou o maior repentista

que pisa neste terreno,

pode chegar qualquer um,

rico, alvo ou moreno,

quando chega aqui é grande,

mas quando sai é pequeno.



PEDRO AMORIM

Todo cantador pequeno,

pensa que é grande e sabido:

sempre conta que venceu,

nunca diz que foi vencido,

acho que com meu colega,

isto tem acontecido.



CANTADOR NÃO IDENTIFICADO

ODILON, você está velho,

não tem mais sonoridade,

o pensamento já falha;

Um homem da sua idade

só serve pra duas coisas:

chorar e contar saudade.



ODILON NUNES DE SÁ

Admiro a mocidade

não querer envelhecer,

velho ninguém quer ficar,

moço ninguém quer morrer,

quem morre moço não vive,

bom e ser velho e viver.



SEBASTIÃO DA SILVA

A casa que morei nela,

que fui feliz com meus pais,

só restam teias de aranha,

cupim roendo os frechais,

é um poema de angústias,

de saudades,nada mais..



VALDIR TELES

Só restam mesmo os frechais

e a cumeeira pendida,

um fogão velho de lenha,

a mesa velha encardida,

mas pra mim foi a morada

melhor que eu tive na vida.



ARNALDO CIPRIANO DE SOUZA

Esta viola bonita,

que eu conduzo em minha frente,

do jeito que ela tem boca,

se tivesse língua e dente,

talvez contasse a metade

da dor que meu peito sente.



JOSÉ BERNARDINO DE OLIVEIRA

O que diz o cidadão,

nem mesmo um professor sabe,

mesmo este assunto não cabe

na minha compreensão,

não sei se antes de Adão,

esse negócio já vinha,

nem sei se antes já tinha,

ovo, galinha e poleiro,

não sei quem nasceu primeiro,

se avo, galo ou galinha.



BELARMINO DE FRANÇA

Andei a primeira vez,

de quatro pés e depois

comecei a andar de dois,

e hoje ando de três,

mas assim Deus não me fez,

não nasci desta maneira.

Uso este pé de madeira,

por uma necessidade;

oitenta e cinco de idade

não é boa brincadeira.



JOSÉ VILANOVA (Pai de Ivanildo Vilanova)

O vício da embriaguez

em meu feitio não mora,

por isso fico de fora,

deste sarau de vocês,

beber a primeira vez,

pra mim é coisa custosa,

vou tomar uma gasosa,

que nada de mal concebe,

aqui só glosa quem bebe,

quem não beber nada glosa.



OTACÍLIO BATISTA

Fazer o bem é perdido,

fazer o mal não convém,

entre a maldade e o bem,

quem faz o bem é traído.

Eu não fui compreendido,

quando tive compaixão

de quem me estendia a mão,

desejando ser feliz:

A quem mais favor eu fiz

Só me fez ingratidão.



MANOEL BELARMINO

No meu tempo de criança,

ou em casa ou no caminho,

quando encontrava um velhinho,

estranho ou da vizinhança,

com a voz humilde e mansa,

dizia “bênção seu Zé”,

e ele na boa fé

dizia: “Deus te abençoe”,

veja o passado o que foi,

veja o presente o que é.



JÓ PATRIOTA

Estes teus seios pulados,

que estão me desafiando,

são dois carvões faiscando,

no fogão dos meus pecados,

são dois punhais afiados,

que já ferem dois cristãos,

para o meus lábios pagãos,

são dois sapotis maduros,

Quero ver teus seios puros

nas conchas de minhas mãos.



SEVERINO PINTO

Vaqueiro é pra tirar couro,

espichar, fazer correia,

azeitar cabresto e peia,

tirar leite e beber soro,

visitar o logradouro,

curtir couro, fazer sola,

pra rabicho e rabichola,

ferrar gado e capar bode,

Quem é vaqueiro não pode

ser cantador de viola.



JOSÉ VICENTE

Só o presente me diz

tudo que fiz no passado,

caminho certo ou errado,

nas caminhadas que fiz,

só mesmo o destino quis

modificar minha mente,

o corpo velho e doente

mantém as rugas da cara.

A saudade não separa

o passado do presente.



JOSÉ ALVES DE MIRA-FLOR

Disse assim o tentador

com Jesus na solidão:

converte pedras em pão,

tentando a Nosso Senhor,

o Divino Salvador,

com frases que não se somem,

mostrou que os justos não comem,

repelindo o anjo audaz;

retira-te satanás,

Nem só de pão vive o homem.



MANOEL DODÔ

Na profissão de carreiro,

eu faço tudo e não deixo,

compro sebo ensebo o eixo,

a canga e o tamoeiro,

sete palmos de fueiro

medidos na minha mão,

uma vara de ferrão,

dois canzis de mororó:

carro de boi e forró

faz eu gostar do sertão.



ARNALDO CIPRIANO

A mulher do meu encanto

saiu comigo em passeio,

eu guiando um veraneio,

de uísque bebi um tanto,

chegando no Bel-recanto,

fomos dar ar no pneu,

a câmara de ar encheu,

no nono mês estourou:

Eu pequei, ela pecou,

mas o culpado fui eu.

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