segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Passeio Fantástico pela Natal de Antigamente (Personagens, lugares, loucos e boêmios do passado de Natal)

Texto do meu livreto: Passeio Fantástico pela Natal de Antigamente



AGRADECIMENTOS


À minha filha Aline Raquel Ribeiro, pela correção gramatical, ao meu filho André Gustavo Ribeiro, pela formatação dos textos, à dona dos meus passos Raimunda Marcolino, pelos apoios indiretos, ao Professor Garcia, pela orientação e revisão métrica, e a Reneide Saldanha (filha do imortal cordelista Zé Saldanha), pelo incentivo, e por ter servido de ponte entre mim e o escritor Gutenberg Costa, a quem também agradeço por fazer a apresentação deste trabalho.

DEDICATÓRIA


        Dedico este trabalho à memória de meu avô José Carlos Limeira (1905/1979; paraibano do Brejo, quem sabe parente de Zé Limeira), que lia e cantava bastante folhetos, sabia de memória no mínimo vinte folhetos. À minha avó Ana Riberio da Silva (1904/1972), que não lia, mas era amante da literatura de cordel e da cantoria, e que, ao meu lado, assistia, todos os dias, o programa “Ao Som da Viola”, na Rádio Tabajara da Paraíba, onde brilharam os cantadores Otacílio Batista, João da Silveira, Clodomiro Paes e outros. E, sobretudo, dedico à memória de minha mãe, Neuza Ribeiro de Lima (1934/2017), eterna fazedora de rimas, na companhia de quem eu ficava horas nas feiras de Pedro Velho e de Montanhas, ouvindo os cantadores, os emboladores (especialmente Chico Antônio), e, principalmente, os vendedores de folhetos, que cantavam partes de cada obra. Lembro-me que os dois primeiros cordéis que a vi comprar foram “Coco Verde e Melancia” e “Pavão Misterioso”, os quais eu li, ainda soletrando, sob a luz de lamparina. Dedico também ao meu pai, Gabriel Carlos de Lima (1933), grande amante de cantoria, quem ainda hoje acompanha-me durante as noitadas de violas. E, que quando moço, cantava, de memória, alguns folhetos (aprendidos com seu pai), entre eles um épico contando a paixão de Cristo (que infelizmente não sei o autor, e que fazia mamãe chorar ao ouvi-lo), Devo também ao meu pai o nome que adoto quando escrevo, Francisco Gabriel, motivado por meus apelidos, Francisco de Gabriel e Chico de Gabriel.

Quase uma apresentação... 

      A literatura de cordel em si, dispensa apresentação... Ela é suprema na fé do povo, especialmente, o nordestino. Devoto de Leandro Gomes de Barros, Martins de Athayde, Francisco das Chagas Batista, entre outros renomados percussores dos nossos folhetos populares. Livros do povo, que no meu tempo de criança eram vendidos e divulgados pelos folhetistas, nos mercados e feiras livres. 
Eu adquiri os meus primeiros na feira do bairro do Alecrim, em Natal, onde cresci e morei por quase trinta anos.
Esses folhetos, eram vendidos numa casinha velha, ainda de taipa, abaixo do nível da rua Coronel 
Estevam, número 1325, no mesmo bairro do Alecrim. Seus vendedores e proprietários eram 'seu' Antônio Emídio da Silva e sua esposa, 'dona' Amélia, até o início dos anos oitenta (1982).
Mas agora, vamos chamar à atenção dos leitores para o Livro-folheto, intitulado “Passeio Fantástico Pela Natal de Antigamente”, de autoria do poeta e pesquisador Francisco Ribeiro de Lima, que usa o nome literário de Francisco Gabriel Ribeiro, ou mesmo “Chico Gabriel”. Natural de Pedro Velho/RN, e desde os anos 70, que reside em Natal. Sempre pesquisando sobre nossos personagens, lugares históricos e boêmios. Lendo e observando o que deixou de ser esquecido pelos nossos historiadores e memorialistas, entre eles Câmara Cascudo, Veríssimo de Melo, Francisco das Chagas, Marcos Cesar Cavalcante, José Luiz Silva, Fernando Caldas, Paulo Augusto, Sérgio Vilar, Carlos de Miranda Gomes e este mero apresentador, entre outros...
Francisco Gabriel, em seu trabalho, cita uma vasta bibliografia sobre o tema ora pesquisado e poetizado.
        Não deixa escapar quase nada sobre Natal de Antigamente. Nossa Natal querida, que infelizmente quase “acabou” ou se “omitiu” no desaparecimento de belos e históricos casarões, palacetes e relegados ao esquecimento de seu rico passado.
Parabéns ao leitor que tiver acesso a esta obra. Parabéns ao autor, amigo Francisco Gabriel, por mais este presente a nossa cultura, ao cordel e a história natalense! 
Demasiadamente honrado com a escolha do autor, pela presente apresentação.

                                   Gutenberg Costa.

     Nísia Floresta/RN, no do Centenário de Nascimento do Grande Cordelista Potiguar, José Saldanha. 25/05/2018.
               
Nota do autor: Gutenberg Costa é Pedagogo, bacharel em direito, escritor, pesquisador, folclorista, conferencista …  Faz parte da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN, da Comissão Estadual de Folclore do RN e da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel. ANLIC. É membro de diversas academias, institutos pelo Brasil afora, etc.  seus livros sobre a cultura popular foram a maior fonte de pesquisa do trabalho ora apresentado. 

Depoimento de amigo.

 No belíssimo cordel: PASSEIO FANTÁSTICO PELA NATAL DE ANTIGAMENTE, o poeta Francisco Gabriel o conclui, elaborando 45 estrofes em decassílabos agalopados, um dos estilos poéticos mais cobiçados e apreciados pelos admiradores da poesia popular do Nordeste. Nesse novo trabalho, o poeta, trovador e cordelista, resgata para as gerações futuras, personagens de um Natal não tão distante, mas num período em que todos ainda podiam tomar assento nas calçadas e prosearem até altas noites. Neste belo panorama poético o poeta traz à tona, em versos muito bem arquitetados, aqueles lugares mais tradicionais, onde os boêmios natalenses frequentavam nas mais deliciosas noitadas. O Gabriel resgata até aquelas personagens mais jocosas, tais como contadores de anedotas, poetas populares, apologistas e até pessoas desatinadas mentalmente; podemos citar a caicoense JÚLIA MEDEIROS, que vivia rua acima rua abaixo, o que lhe coube a alcunha de Rocas Quintas, trajeto que fazia assiduamente; e o pior, juntando papéis pelas ruas de Natal, mesmo pertencente a uma das famílias mais tradicionais do Seridó. Júlia Medeiros viveu vários anos no Rio de Janeiro, tida como uma das primeiras feministas do Brasil, chegando a ser a primeira mulher Vereadora, em Caicó. Hoje há uma rua com o seu nome. Justiça seja feita. Ante as dificuldades dos meios de comunicação do passado, vivia nessas condições lamentáveis, como se fora uma pessoa anônima, uma pessoa indigente.
          Deixo o meu apelo, para que o município de Natal se interesse e publique esse cordel em larga escala e o faça chegar até às suas escolas municipais e o introduza nas salas de aula, pelo menos como matéria transversal, para que as futuras gerações, não se esqueçam de seus costumes, suas tradições e de como viviam seus ancestrais no passado.
          
Desejo, portanto, muito sucesso ao meu nobre poeta, amigo e irmão em sonhos, Francisco Gabriel, um dos poetas recém revelados e com uma produção rica, 
inteligente e valorosa, tendo obtido muitas classificações pelo Brasil e pelo exterior. Meu amigo Gabriel é um vencedor.

Abraços do velho amigo

Caicó, 26 de abril de 2018.


Professor Garcia.


Nota do autor: Francisco Garcia de Araújo, o Professor Garcia, é escritor, poeta e trovador premiadíssimo no Brasil e no exterior. Aclamado nos meios trovadorescos de todo Brasil.  Presidente do Clube dos Trovadores do Seridó, CTS, e da UBT-Caicó. Coordenador da UBT para o Nordeste, e Delegado da Organização Mundial de Trovadores - OMT.

Trovas do Professor Garcia

Pelas manhãs vou buscando 
minha esperança perdida...
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!


Sozinha!... Terço na mão,
vovó na igreja, que exemplo!
É um templo de solidão
na solidão de outro templo!


Entre o nascer e o sol posto
há uma pausa e um até breve,
que vão moldando, em meu rosto,
as rugas que o tempo escreve.



Passeio Fantástico pela Natal de Antigamente
(Personagens, lugares, loucos e boêmios do passado de Natal)

01

Revivendo o passado de Natal,
o ponteiro do tempo eu atrasei.
Por um mundo de sonhos naveguei,
misturando o fantástico e o real.
Adentrei num enredo colossal,
como um pássaro que voa livremente.
Comtemplei o pretérito no presente,
para ver este sonho emoldurado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

02

A memória do tempo eu revirei,
começando no bairro da Ribeira.
Como ave noturna e sorrateira,
num antigo bordel eu adentrei.
Vi um jovem de terno e constatei
um boêmio de um tipo diferente,
recitando um poema comovente,
apesar de bastante embriagado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

03     
          
Era o grande poeta Itajubá
que fazia da noite o seu abrigo.
Perto dele, sequer tinha um amigo,
só a casta mundana estava lá.
Muito tempo se foi de lá pra cá,
mas a cena ressurge livremente,
nos registros do cofre do presente,
o momento ficou eternizado. 
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


04

Noutro dia de sol quente e desnudo,
pelo túnel do tempo eu circulei
e, nas ruas das virgens, eu encontrei
um mancebo saindo para o estudo.
Esse garbo mancebo era o Cascudo,
imortal no passado e no presente,
sendo mestre que reina eternamente
como o nome maior do nosso Estado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

05

Pesquisando a cultura popular,
foi Cascudo, o maior entre os mortais.
Estudante das causas informais,
dedicou sua vida a pesquisar.
Sua escrita tratou de registrar
a magia que vive em nossa gente.
Foi mecenas da arte do repente,
do batuque, da dança e do reisado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

06
Protegeu os folguedos populares,
seu quintal parecia um picadeiro.
Com brincantes dançando no terreiro,
vendo a lua mirando seus cantares.
Todos tinham, no mestre, seus pilares, 
para entrar noutras portas livremente.
Neste espaço cantou, brilhantemente,
Chico Antônio no coco improvisado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


07

Na coluna do tempo eu me agarro,
e adentro no Carneirinho de Ouro.
Neste tão pitoresco logradouro,
eu encontro o pintor Newton Navarro
que, depressa, fumava o seu cigarro,
tendo à frente uma taça de aguardente. 
Seu Tavares também se faz presente,
noutra mesa tomando o seu traçado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

08

Misturado no tempo e na razão,
visitei, noutra noite, o Wander Bar.
Era um ponto de encontro militar
e pessoas com certa posição.
Uma lua vertia o seu clarão
sobre as águas do Potengi dolente.
A quimera floriu na minha mente,
me fazendo sonhar mesmo acordado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

09

Me lembrei que esse prédio foi outrora
gabinete do mando estadual.
Foi o prédio mais alto de Natal,
e se mostra imponente até agora.
Demorei no local quase uma hora,
depois fui caminhando mais à frente;
sob o claro da lua reluzente,
penetrei por um beco mal traçado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


10

Contemplei no recinto um marinheiro,
na calçada flertando uma pequena.
Neste beco chamado “Quarentena”,
uma dama catava um companheiro,
procurando ganhar algum dinheiro,
exibindo o seu busto saliente.
Seu passado lhe deu como presente
carregar este fardo de pecado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

11    

Na penumbra das noites da Ribeira,
penetrando por becos e vielas,
adentrei na Travessa das Donzelas,
contemplando uma lua bandoleira.
Vislumbrei uma roda seresteira,
com “donzelas” marcando o ambiente.
Madrugada chegou tão de repente,
que acordei com o dia ensolarado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

12

Na Tavares de Lira, noutro dia,
encontrei Zé Areia na calçada,
como sempre, fazendo presepada
e, na roda, a plateia lhe aplaudia.
Recitando, em forma de poesia,
tudo aquilo que vinha em sua mente.
Personagem bastante irreverente,
pela lei da trapaça foi marcado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


13

Zé Areia, que foi de tudo um pouco,
foi barbeiro, mascate e jogador.
Ardiloso com ar de professor,
sendo misto de gênio, vate e louco.
Declamava que até ficava rouco,
com o talento movido a aguardente.
Era afoito nas rimas e no repente,
sendo bamba no verso improvisado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

14

Descrevendo este astuto um pouco mais,
com a sua conduta quase insana,
patranheiro da tropa americana,
e também trabalhou nos seringais.
Teve amigos nas rodas sociais,
dentre os quais até mesmo um presidente,
de quem quis um emprego de presente;
no entanto, esse pleito foi negado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

15

Fiz, assim, esse ponto especial,
para quem, no humor, merece um prêmio,
por ter sido o boêmio mais boêmio
que viveu na cidade do Natal.
Hoje mora no campo sideral,
mas a sua herança irreverente
viverá entre nós eternamente,
no que foi sobre o mesmo publicado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


16

E, seguindo um trajeto pontual,
desvairando o que foi realidade,
caminhei para o centro da cidade,
coração desta nossa Capital.
O Café Grande Ponto era a central
de boatos que mais juntava gente.
O Café Avenida, quase em frente,
competia com ele lado a lado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

17

Grande Ponto presente na memória,
para quem seu recinto frequentou.
E, de perto, curtiu ou contemplou
o remate sutil de sua glória.
Grande Ponto faz parte da história,
foi findado, mas vive no presente,
pois seu nome brotou como semente,
e ficou para sempre eternizado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

18

Grande Ponto de encontros memorais,
de notórios sondando opinião.
Neste espaço, Djalma Maranhão
discutia uns assuntos geniais.
Com Cascudo na frente doutros mais,
debatiam cultura abertamente
e, surgindo um assunto diferente,
do esporte falava João Machado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


19

Noutra noite, enquanto eu vagueava
pelas ruas do meu viver à toa,
decidi frequentar Maria Boa,
a boate que mais se destacava.
Se um varão solitário lá chegava,
logo após adentrar no ambiente,
uma moça surgia em sua frente,
ostentando um casaco decotado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

20

Numa tarde silente de domingo,
optei pela calma de um cinema.
O ator era o Giuliano Gemma,
que na tela brilhava como Ringo.
O enredo, de bom, não tinha um pingo,
mas a gente curtia alegremente.
Era o Rex o cinema mais pungente,
e o “Nordeste” era o mais sofisticado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

21

E, de noite, depois que a lua veio,
contemplei um cortejo colossal.
Só então percebi que o carnaval
alcançava também meu devaneio.
Numa rua, bailavam no seu meio,
foliões que pulavam intensamente,
perseguindo outro corso mais na frente,
conduzindo o rei momo entronizado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


22

Muitos blocos seguindo no cortejo,
como Apaches, Chefões e os Magnatas.
No “Ressaka”, mulatos e mulatas
encantavam com garra este festejo.
Um passista mostrava seu traquejo,
quando a banda tocava um frevo quente.
Seu Raimundo, bastante irreverente,
desfilou de mulher fantasiado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

23

E lembrei que, na tarde desse dia,
me entretive dançado a matinê,
que rolou lá na sede do ABC,
no aguardo do baile à fantasia.
No América, curtia a burguesia,
outro baile momesco mais pungente.
A elite marcava esse ambiente,
classe “b” tinha acesso limitado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

24

De manhã, sob a luz do sol brilhante,
fui à praia flertar umas donzelas.
E usei como ponto o Caravelas,
bar singelo que foi o mais marcante
para a vida do solitário errante,
que na praia buscava sutilmente
um alguém que cruzasse seu batente,
para que se aninhasse do seu lado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


25

Vagueando na plena beira mar,
tendo a minha paquera sido em vão,
embarquei na primeira lotação
e no Lira parei para almoçar.
Restaurante famoso e popular,
para quem ostentava uma patente,
e político com ar de inocente,
exibia um estilo bem pautado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

26

Quando a noite, deitado em minha cama,
certas cenas passadas recordei.
Me lembrei que às vezes frequentei
Rita loura, Acapulco e o Alabama.
Francesinha, bordel que tinha fama,
tendo o Rosa de Ouro, logo à frente.
Veio o Plaza surgir na minha mente,
junto dele um Aperge deslumbrado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

27

A lembrança remota também traz,
num coreto pertinho da matriz,
Menininho tocando bem feliz,
assombrando com seu caixão de gás.
Este artista, que foi o mais sagaz
sanfoneiro daqui de nossa gente,
tinha estilo bastante irreverente,
só tocava dançando o seu gingado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


28

Outro artista burlesco veio a mim,
era o grande talento Zé Minhoca.
Para vê-lo tocar sua engenhoca,
vagueei pela feira do Alecrim.
Zé Minhoca, que teve um triste fim,
ao beber meio litro de aguardente,
mas tocava vertiginosamente,
apesar de tocar embriagado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

29

Recordei outros vultos populares,
que viveram na nossa capital.
Paulo Maux, nosso rei do carnaval,
foi destaque nas terras potiguares.
Exibindo seus dotes singulares,
ao mostrar-se alegre e sorridente.
Severino Galvão, seu oponente,
era o rei do protesto, inconformado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

30

Entre os loucos queridos da cidade,
me lembrei do pateta “Lambretinha”,
de “Corisco”, rezando a ladainha,
e do tão genial “Velocidade”.
“Mula Manca” clamando por verdade,
Severina, rainha independente.
“Doutor Choque”, bastante contundente,
defendendo com garra seu cercado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


31

“Rocas as Quintas”, que era na verdade
Júlia Augusta, nascida em Caicó,
respeitada por todo Seridó
como mestra de grande qualidade.
Importante figura da cidade,
jornalista bastante combatente,
mas viveu em Natal como indigente,
sem ter nunca o segredo revelado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

32
Recordei o Jerônimo do Sucesso,
na estação lá do bairro da Ribeira
que, com vários cordéis na algibeira,
ao setor de embarque tinha acesso.
Divulgava com força cada impresso,
declamando o folheto abertamente.
De repente sumiu do ambiente,
mas deixou no espaço o seu legado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

33

Dos dois padres, distantes da matriz,
para mim todos dois foram notórios.
Padre Mário, fazendo seus casórios,
e espreitando a política, Zé Luiz;
comentando falou tudo que quis,
mesmo tendo a censura pela frente.
Foi um padre bastante diferente,
por ter sido, esse padre, bem casado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


34

Outros nomes figuram nesta lista:
“Guarda Belo”, “Helmut” e “Risadinha”,
Seu Nazi no seu Bar da Meladinha, 
“Gentileza” e Osório, o comunista,
Alexandre Garcia, o memorista,
e a Nice Fernandes, irreverente,
Pedro Grilo, que vive no presente,
e “Black Out”, o poeta mal trajado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

35

Deodato, pedindo votação,
e o poeta e escritor Milton Siqueira;
Seu Olívio, do Bairro da Ribeira,
e “Coquinho” no Alberto Maranhão;
Doutor Rossi, o etílico sem perdão,
no Café São Luiz constantemente;
Tem Craúna do Norte no repente,
e “Cuíca”, o pedinte inveterado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

36

Seu Raimundo, vendendo loterias,
e “Almirante”, com farda de grã-fino;
Zé Pereira um artista genuíno,
“lambe-lambe” da Duque de Caxias;
Zé Poeta trocando poesias,
por um simples trocado incipiente; 
Tributino, sem nada de inocente,
era o rei da trapaça deste Estado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


37

Ataíde, Brigite e Nazareno,
desfilando trejeitos transviais;
vi Cambraia vendendo seus jornais,
e o Duruca curtindo no sereno.
João Batista, cantando um tango pleno,
e “Cisquito”, um poeta transcendente.
Cego Borges tocando alegremente,
e seu Bira, em “Jarita” transformado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

38

Da Viúva Machado e o “Papa-figo”,
lenda viva de nossa Capital;
Dona Amélia, pessoa de moral,
amargou, sem ter culpa, esse castigo.
Lembro “Chico Miséria”, sempre amigo,
e da “Parla”, a “cantora” penitente.
“Barra Limpa”, com pose de decente,
e Osório, um repórter inconformado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

39

Seu Cornélio Procópio, o pioneiro
nos encantos das danças do Araruna,
as cirandas do “Canto da Riuna” 
e as “Lapinhas” dançadas no terreiro.
As congadas do mestre “Marinheiro”
vão viver para sempre em minha mente.
“Daniel” será mestre eternamente,
“Militana” um arquivo bem guardado. 
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


40

“Cabo Moura” tentando a eleição,
e Raimundo Nonato, o miçangueiro.
Tudo havia em seu vasto tabuleiro,
sua voz estridente era o bordão.
“Frasquerino”, metido a bonitão,
na breguice fincava o seu batente.
E um “Waldick”, bastante decadente,
imitava o Waldick consagrado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

41

Me lembrei das eternas madrugadas,
com Osório encantando o “Kazarão”.
No “Postinho”, ao som do violão,
Guaraci e canções apaixonadas.
E depois, vagueando nas calçadas,
fui a “Casa da Música” mais à frente.
João de Orestes mexia o ambiente,
com as suas pastoras do seu lado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

42

Gonzagão dando show no “Quitandinha”,
e a “ASSEN” com baile ao som de banda.
“Cleide Drinks” e a roda de ciranda,
e os bares que em nossa terra tinha.
“Bate Papo”, “Paquera” e Teresinha,
e o “Iara” saudando ao sol nascente.
“Potengi” que servia um caldo quente
e “Barulho”, um barzinho sossegado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.


43

Cine Olde, São Pedro e o São Luiz,
os cinemas do Bairro do Alecrim;
Panorama nas Rocas foi festim,
quando Dercy Gonçalves era a atriz.
Mazzaropi a plateia fez feliz,
e Oscarito encantava nossa gente.
Grande Otelo, o malandro irreverente,
e Ankito, um malandro comportado. 
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

44

Me lembrei das eternas passeatas
que existiam na nossa capital.
Cada qual atacando a seu rival,
destilando promessas e bravatas.
As figuras bastante caricatas
procurando engodar um inocente.
Essa luta foi mais impertinente
nas disputas do verde e do encarnado.
No telão do cinema do passado,
divaguei por Natal de antigamente.

45

Terminando o meu sonho colossal,
que fundiu o real e a fantasia,
escrevi tudo em forma de poesia,
flores vivas tiradas de um bornal.
Que ofereço à cidade do Natal,
seus anais, seu espaço e sua gente,
para que fique vivo no presente,
esse tempo que estava engavetado.
No telão do cinema do passado,
Divaguei por Natal de antigamente. 



Bibliografia:
Ferreira, Francisco das Chagas – Ferreira Itajubá; poesia. Natal. ed. universitária – 1981.
Cascudo, luís da Câmara, 1898 nomes da terra – Fundação José Augusto – 1968.
Morais, Marcus César Cavalcanti de – Retrato Narrado da Cidade do Natal – Segraf – 1999.
José Luiz da Silva – Na Calçada do Café São Luiz – Cia Editora do RN -
Costa, Gutemberg – Natal – Personagens e Populares – Sebo da Praça - RN Econômico – 1999.
Costa Gutemberg – Presença do Folclorista Câmara Cascudo na Literatura de Cordel - Funcart - 2000
Costa, Gutemberg – Dicionário de Poetas Cordelista – Queima Bucha – Mossoró – 2004.
Veríssimo de Melo – Sátiras e Epigramas de  Zé Areia – Sebo Vermelho – Editora Saraiva – 2007
Paulo Augusto – O Bufão de Natal – Sebo Vermelho – 2009.
Outras fontes:
Blogs: Miranda Gomes, Natal de Ontem, Fernando Caldas, Orvemundo, Papa Jerimum, Tok de História, Sergio Vilar, Vento Nordeste, Potiguarte e Companhia da Notícia.
Páginas: Natal de Antigamente, Natal Antiga, e Natal Como te Amo.
Jornais: Tribuna do Norte, Diário de Natal e A República.
Reportagens: O Carnaval em Natal há Cinquenta Anos – Gutemberg Costa – 2009.
Zé Areia Pronto pra Guerra – Juarez Chagas.

Original de agosto de 2015, revisado e ampliado em fevereiro de 2018 

Passeio pelo Mundo das Minhas Trovas 


1° Lugar em Caicó, 2016, como Novo Trovador
Tema: Silêncio

A voz que o silêncio clama
é sempre a voz mais potente.
Nas súplicas que ela proclama,
até Deus escuta a gente. 

3° Lugar – UBT – Natal – 2016 – Tema: Chuva

No meu sertão ressequido,
mesmo se clamando aos santos,
a chuva que tem caído
foi só a chuva dos prantos.

Vencedora da Academia de Letras Paranapuã - 2016

Quando a cortina do dia
desaba sobre o sertão,
é Deus fazendo poesia
pra dar de presente ao chão … 

Menção Especial – Panamá – 2016
Tema: Rota

De um sonho, a ideia brota,
dentro de um plano profundo…
Culminado com a rota,
que encurta as rotas do mundo!

Menção Honrosa – Nova Friburgo – 2017
Tema: Pausa

Com parte da Terra em guerra,
sem pausa nos seus horrores…
Bendito o ser que, na Terra,
dispara canhões de flores!
Vencedora – 2017 – Academia Fluminense de Letras – Tema: Academia, Memória e História 

Com história e com poesia,
eis que a memória constrói
a glória da Academia,
que dá glória a Niterói.

2° Lugar Concurso Para uma Vida Melhor
São José dos Campos-SP. Tema: Humilhação

Quer saber da humilhação
que ao ser humano consome?
Durma uma noite no chão,
na casa onde mora a fome.

2° Lugar Juiz de Fora – 2017 – Tema: Grinalda

Essa grinalda de flores
testemunhou nosso sim.
Hoje testemunha as dores,
que queimam dentro de mim. .

4° Lugar – Campos dos Goitacazes - 2017
Tema: Doçura

Nenhuma ternura ostenta,
maior doçura em seu brilho,
do que a da mãe que amamenta
olhando os olhos do filho.

4° Lugar – Cuba – 2017 – Tema: Raízes

Vem do ódio e da cobiça,
as raízes que, na terra,
alimentam a injustiça
e nutrem, no mundo, a guerra.

4° Lugar – ATRN – 2017 – Tema: Destino

Em busca de novas portas,
vou com alma de menino,
contornando as curvas tortas,
das estradas do destino.

5° Lugar – Argentina – Tema: Natal

Sob um abrigo mal feito,
onde a pobreza se impunha,
houve o Natal mais perfeito
que a Terra foi testemunha.

1° Lugar Concurso Relâmpago – Caicó – 2017
Tema:  Abraço

Teus abraços de ternura,
outrora minha ilusão...
São meus tragos de amargura
na taça da ingratidão.


1° Lugar – Intersede  - 2018 – Achado

Depois de velho e cansado,
longe dos tempos risonhos,
bendigo por ter te achado
entre as cinzas dos meus sonhos 

Passeios por Minhas Glosas

Sobre as cinzas de minhas fantasias,
meditei sobre as dores das paixões.
Refleti sobre as minhas ilusões,
flores murchas das tarde dos meus dias.
Sepultei as tristezas e alegrias,
entre as rochas perdidas pelo prado.
Persegui novo céu iluminado,
andejando no rumo das falenas.   
“Na bagagem da vida levo apenas
Uns farrapos de sonhos do passado”.

Mote: Lucélia Santos
Glosa: Francisco Gabriel 

Entre as mágoas, refiz os meus caminhos,
refleti sobre as dores dos meus sonhos,
meditei nos momentos mais tristonhos,
recompus minha vida entre os espinhos.
Procurei o aconchego doutros ninhos…
despertei duma eterna madrugada.
Noutros braços busquei por nova estrada,
novamente outro sol me deslumbrou.
“A moenda do tempo triturou
a saudade que estava impregnada”.

Mote: Silvano Lira
Glosa: Francisco Gabriel
Do vislumbre de um grande navegante,
sobre um berço de belos coqueirais,
adornados por gotas de cristais,
uma vila desponta radiante.
Reluzente na luz do sol brilhante,
se fez musa que encanta os meus cantares.
A sublime cidade dos luares,
e das ninfas perdidas nas areias.
Tem Olinda os encantos das sereias,
que mergulham nas águas dos seus mares.  

Glosa participante do concurso do Grupo Cordel Improvisado – 2018. Tema: Homenagem à Olinda

No seu reino de sonho e ilusão,
não divide o real da fantasia.
Vai vivendo o seu sonho noite e dia,
para ter sempre vivo o coração.
O real para ele é contramão,
só o sonho dá vida a sua vida.
Seu caminho parece sem saída
se seu céu sem luar fica tristonho.
“Quer matar o poeta mate o sonho,
que o poeta sem sonho se liquida”.

Mote: José Lucas de Barros
Glosa: Francisco Gabriel


Passeio por Meus Sonetos 


Um Banho de Consciência (3° lugar – México)

Pela voz do silêncio que eclodia,
meditei sobre as minhas cicatrizes,
e os sinais dessas marcas são matrizes,
desse réu que o pecado denuncia. 

Refleti nos pesares que eu sentia,
consciente dos feitos infelizes,
que tornaram brutais os meus matizes,
ofuscando que a luz fosse o meu guia.

Pelo peso da minha consciência,
vou banhar-me na fonte da decência,
cultivando florais na minha calma. 

Suplicando ao espaço por clemência,
me inebrio com o bálsamo da essência,
que perfuma o silêncio de minha alma.



Maravilhas do Meu Caparaó (1° lugar – ES)

Deslizando entre as pedras tortuosas
nos sopés verdejantes das montanhas,
águas vivas brotaram das entranhas,
germinando um jardim fértil de rosas.

Os deslumbres das serras majestosas,
adornaram, com luz, muitas façanhas,
dos heróis triunfantes nas campanhas,
dessas terras benditas e gloriosas. 

Como fossem auroras boreais,
os seus raios de sol são divinais
reluzentes nas cores de ouro em pó. 

Adornando seus belos cafezais,
maravilhas de tons celestiais
que resplendem no meu Caparaó. 

CONCURSO NACIONAL DE POESIAS COM O
TEMA MARAVILHAS DO CAPARAÓ...

Com um total de 1.257 poesias recebidas de diversas cidades brasileiras, o Poeta Francisco Gabriel de Natal no Rio Grande do Norte foi o grande vencedor do Concurso Nacional de Poesias com o tema Maravilhas do Caparaó (Nota de Jornal – Iúna-ES)


Passeios por Outros Estilos


Beira Mar participante do primeiro Festival do Cordel Improvisado.

Por entre os cascalhos dos vastos sertões,
nasceste entre pedras, no berço das flores.
Dos olhos, esplendem ternuras de amores,
a lira perfeita de minhas canções,
e musa do encanto de mil corações,
és verbo sublime na forma de amar.
Desceste da serra no teu caminhar,
mostrando a beleza de gueixa do agreste,
chegastes nas praias do vasto Nordeste,
és jade brilhante da beira do mar.

Décima feita pelo autor no dia do encantamento de sua mãe. 13 de agosto de 2017.

Feita de amor e ternura,
em prol dos filhos viveu.
Em cada abraço que deu,
marcou com sua doçura.
A sua estrada foi dura,
cruéis os sofreres seus.
Suspirou dizendo adeus,
partiu rumo a eternidade.
Deixou na Terra a saudade,
indo morar junto a Deus.



Decassílabo em Homenagem ao Poeta Zé Saldanha- fevereiro de 2018.

Entre os ventos alísios do sertão,
há cem anos nascia Zé Saldanha,
quando a lua vertia da montanha,
o lampejo maior do seu clarão.
Pintou versos de luz no coração
dos amantes da boa cantoria.
Dedicou aos cordéis que escrevia,
os olores da sua trajetória.
Zé Saldanha é eterno na memória
dos que prezam o valor da poesia.  


Septilhas autobiográficas

Fui fruto da claridade
de uma noite muito bela.
Só o céu foi testemunha
dessa cena de aquarela.
O chão foi a grande cama,
o cobertor foi a grama
e um pirilampo foi vela.

Deus me mandou para a vida
com a sublime missão
de, sendo um pinto pequeno,
ter que vencer gavião
e, sem qualquer aparato,
deu-me a força de um gato
para brigar com leão.

Meus castelos construí,
mas hoje só tem função
de guardar sonhos perdidos,
vencidos pela razão.
E surgem até como afrontas,
para armazenarem as contas
do meu terço de ilusão.

Mas, renascendo criança,
quero de Deus mais justiça.
Não vou querer cruz de ferro,
nem de madeira maciça,
com a ajuda de Jesus
quero dele nova cruz
toda feita de cortiça. *

* a última estrofe foi inspirada uma quadra atribuída ao boêmio e poeta natalense “Zé Areia”. “*Essas septilhas são fragmentos de: “Minha Biografia” – 2008 e “Testamento de um Sonhador”, 2010,  

TROVAS POTIGUARES DE ETERNAS MEMÓRIAS

Eu suponho que a riqueza                    
que sobra dos poucos nobres,
seja o que falta na mesa
dos muitos que vivem pobres.
(Clarindo Batista)

Sei que deste mundo lindo
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.
(José Lucas de Barros)  

Eu sei de uma negra cruz,
de tão negra não tem nome:
essa que o pobre conduz          
pelo calvário da fome.
(Sebastião Soares)

Após causar desencantos
e nos fazer peregrinos,
a seca fez chover prantos
nos olhos dos nordestinos! 
(Ademar Macedo)

Garrancho, graveto, espinho,
feito de amor, que eu suponho,  
vai aquecer nosso ninho
para “chocar” nosso sonho

(Francisco Macedo) 
   

Francisco Gabriel Ribeiro (Chico Gabriel) é o nome literário de Francisco Ribeiro de Lima, natural de Pedro Velho-RN e residente em Natal desde a adolescência. É graduado em ciências contábeis, casado, possui dois filhos e é servidor da Prefeitura Municipal de Natal. Admirador da cultura popular, sobretudo da poesia, começou a escrever os seus primeiros versos depois dos 50 anos e, somente em 2016, começou a entender melhor de métrica, quando começou a participar de concurso de trovas. Teve como mentor o famoso Professor Garcia, de Caicó, com quem publicou um trabalho em parceria. Ainda em 2016, foi eleito para ATRN.
O nome Francisco Gabriel vem dos seus apelidos Francisco de Gabriel e Chico de Gabriel, numa referência ao seu pai. Seus avós eram apaixonados por cantoria; sua mãe, Neuza Ribeiro, criou-se escutando os cocos de Chico Antônio e gostava de fazer rimas.
Esse trabalho é um resgate de personagens e lugares populares da Natal de antigamente; uma parte tirada da memória do autor, e a outra das publicações a respeito do assunto. A principal fonte foi o livro “Personagens & Populares” do famoso escritor Gutenberg Costa. Para que o trabalho não ficasse muito longo, ficaram de fora algumas figuras que o autor conheceu de perto, e gostaria de ter falado sobre elas: “Nêgo Chimba”, que não se deixava prender, nem por 10 soldados, fazendo uso apenas de sua faca peixeira e dos conhecimentos da capoeira; “Vida Boa”, um pedinte maluco que saia espraguejando quando alguém lhe oferecia um pão dormido ou algo semelhante; “Zezinho Porrete”, vizinho do autor; etc.
Contato: (84) 9 9964 9847 (Tim/WhatsApp); (84) 9 8786 8699 (OI). E-mail: franciscoribeiro.natal@gmail.com.  
À memória de minha mãe, Neuza Ribeiro de Lima, uma eterna pescadora de sonhos.
*15/12/1933 - †13/08/2017.

sábado, 10 de setembro de 2016

PRONTO PARA A LUTA

Estou pronto para a luta,
apreensivo, é verdade.
Mas não fujo da disputa,
não sou assim, tão covarde.
O adversário é forte,
preciso de muita sorte
pra perder com hombridade.

No tatame da idade,
vim lutar com um inimigo,
sabendo que o adversário
só oferece perigo.
É desleal na disputa,
mas vou prorrogar a luta,
fugindo do seu castigo.

Terceira idade eu lhe digo,
pra lutar contigo eu vim.
Vou lutar, mas tô sabendo
quem ganha e perde no fim.
Porém, eu lhe peço paz,
não me machuque demais,
tenha compaixão de mim.

Não seja covarde assim,
que tenho força pequena.
Sei que você tem a fama
de agir como uma hiena,
mas eu, que sou sonhador,
não quero ter tanta dor,
seja branda em sua pena.

Vivo como uma falena,
que cultivou a saudade.
E, dos sonhos que sonhou,
viveu menos da metade.
Contigo eu luto sabendo
que você finda vencendo,
mas lute com lealdade.

Te digo, terceira idade,
fugir da luta não vou.
Sou um lutador leal,
e um aviso te dou:
uso como arma a cruz,
e declaro que Jesus
como filho me adotou.

Fim – 21/03/2016

Poesia feita no dia que o autor entrou na terceira idade.


Prólogo do Chico

Francisco Ribeiro Lima,
é meu nome no papel,
porém, se escrevo versos,
feito em forma de cordel,
não me faço de rogado,
no final deixo assinado
como “Chico Gabriel”.
2
Sempre admirei cordel,
e sobretudo o repente,
mas comecei fazer versos,
num tempo já bem recente.
E, se Jesus me ajudar,
eu só pretendo parar
depois que ficar demente.
3
Eu tenho verso na mente,
porém, me faço entender
que a minha vida não deixa
como poeta viver.
Mas também tenho por meta,
de mesmo sem ser poeta,
sempre ser metido a ser.
4
Contemplo ao amanhecer,
o dia no seu começo,
e, à noite, o firmamento
com todo seu adereço.
Mas não me sinto facundo,
sou um escravo do mundo
e poético pelo avesso.
5
Pedro Velho foi meu berço,
Natal é minha cidade.
Dos anos que Deus me deu,
já vivi mais da metade.
Não sou triste nem risonho,
sou um plantador de sonho,
da seara da saudade.
6
Fui fruto da claridade
de uma noite muito bela.
Só o céu foi testemunha
dessa cena de aquarela.
O chão foi a grande cama,
o cobertor foi a grama
e um pirilampo foi vela.
7
Com essa cena singela
a vida, outra vida fez.
E, nove meses passados,
ou pouco antes talvez,
como partícula divina,
vim cumprir a minha sina
de plantar na aridez.
8
Nasci em cinquenta e seis,
em pleno século passado.
Sendo vinte um de março,
conforme está anotado.
Num casebre pequenino,
vim caminhar no destino
que Deus me havia traçado.
9
Cheguei num lugar marcado
pela pobreza voraz,
um ambiente perdido
no meio dos matagais.
Vivíamos da incerteza,
dos frutos da natureza,
num misto de guerra e paz.
10
Como em tudo que Deus faz,
a sentença é proferida,
não permitiu que eu nascesse,
com fortuna garantida,
e pra melhor me julgar,
me fez nascer num lugar,
pra batalhar pela vida.
11
Deus me mandou para a vida
com a sublime missão
de, sendo um pinto pequeno,
ter que vencer gavião
e, sem qualquer aparato,
me deu força de um gato
pra ter que matar leão.
12
Seguindo na contramão,
grandes batalhas venci
mas, no caminho da vida,
eu acho que me perdi
no deslumbre das paisagens,
que eram todas miragens
dos sonhos que não vivi.
13
Meus castelos construí,
mas hoje só tem função
de guardar sonhos perdidos,
vencidos pela razão.
E surgem até como afrontas,
para armazenarem as contas
de um rosário de ilusão.
14
Se, com nova encarnação,
outra vida perpetua,
quero ser de novo alguém
que ame o campo e a rua,
mas contemple o firmamento,
nade nas ondas do vento
e namore com a lua...
15
E, se a vida continua,
quero deixar como herança
os meus tesouros de sonhos
que ficarão na poupança,
como regalos singelos,
pra construir os castelos
de quem cultiva esperança.
16
E, renascendo criança,
quero de Deus mais justiça.
Não vou querer cruz de ferro,
nem de madeira maciça,
eu peço ajuda a Jesus
pra ter uma nova cruz
toda feita de cortiça.*

* a última estrofe foi inspirada uma quadra atribuída ao boêmio e poeta
natalense “Zé Areia”.
“Prólogo do Chico” são fragmentos de: “Minha Biografia” – 2008 e “Testamento de um Sonhador”, 2010, revisadas e ampliadas;
Chico Gabriel – 18 de fevereiro de 2016.