FUI GERADO EM PLENA RELVA,
NUMA NOITE MUITO BELA,
PINTOR NENHUM NÃO PINTOU
UMA CENA COMO AQUELA
O CHÃO FOI A GRANDE CAMA,
O COBERTOR FOI A GRAMA
E UM PIRILAMPO FOI VELA.
COMO SENDO UMA AQUARELA,
ESSE CENÁRIO SE FEZ.
E NOVE MESES PASSADOS,
OU POUCO ANTES TALVEZ,
COMO PARTÍCULA DIVINA,
VIM CUMPRIR A MINHA SINA
EM UM RINCÃO CAMPONÊS.
NO ANO CINQÜENTA E SEIS
EM PLENO SÉCULO PASSADO,
SENDO VINTE E UM DE MARÇO
CONFORME ESTÁ ANOTADO,
NUM CASEBRE NORDESTINO,
VIM CAMINHAR NO DESTINO
QUE DEUS ME HAVIA TRAÇADO.
PRA O MEIO QUE FUI MANDADO
A POBREZA ERA VORAZ,
NUM AMBIENTE PERDIDO
NO MEIO DOS MATAGAIS.
LÁ REINAVA A INCERTEZA,
SENDO UM MISTO DE TRISTEZA,
PUREZA, ALEGRIA E PAZ.
MAS, NAS COISAS QUE DEUS FAZ,
A SENTENÇA É PROFERIDA,
NÃO PERMITIU QUE EU NASCESSE,
COM FORTUNA GARANTIDA,
PRA MELHOR ME OBSERVAR,
ME FEZ NASCER NUM LUGAR,
PRA BATALHAR PELA VIDA
COM CERTEZA VIM PRA VIDA,
PRA CUMPRIR FORTE MISSÃO,
DEUS ME MANDOU COMO PINTO,
PRA ENFRENTAR GAVIÃO,
E SEM QUALQUER APARATO
ME DEU FORÇA DE UM GATO
PARA BRIGAR COM LEÃO.
MESMO NESTA CONDIÇÃO
NUNCA PAREI DE LUTAR,
NAVEGANDO EM MAR BRAVIO,
SEM SABER ONDE CHEGAR.
LUTO MUITO O DIA INTEIRO,
POIS, DEUS ME FEZ MARINHEIRO
SEM ME ENSINAR A NADAR.
POREM SE AQUI EU VOLTAR,
IMPLORO A DEUS POR JUSTIÇA,
NÃO QUERO MAIS CRUZ DE FERRO
NEM DE MADEIRA MACIÇA,
PELO AMOR DE JESUS
QUANDO ME DER NOVA CRUZ
QUERO UMA CRUZ DE CORTIÇA.*
Chico de Gabriel – 11/09/2008.
* A última estrofe foi inspirada em uma quadra atribuída ao boêmio e poeta natalense “Zé Areia”.
