Francisco
Ribeiro Lima,
é
meu nome no papel,
porém,
se escrevo versos,
feito
em forma de cordel,
não
me faço de rogado,
no
final deixo assinado
como
“Chico Gabriel”.
2
Sempre
admirei cordel,
e
sobretudo o repente,
mas
comecei fazer versos,
num
tempo já bem recente.
E,
se Jesus me ajudar,
eu
só pretendo parar
depois
que ficar demente.
3
Eu
tenho verso na mente,
porém,
me faço entender
que
a minha vida não deixa
como
poeta viver.
Mas
também tenho por meta,
de
mesmo sem ser poeta,
sempre
ser metido a ser.
4
Contemplo
ao amanhecer,
o
dia no seu começo,
e,
à noite, o firmamento
com
todo seu adereço.
Mas
não me sinto facundo,
sou
um escravo do mundo
e
poético pelo avesso.
5
Pedro
Velho foi meu berço,
Natal
é minha cidade.
Dos
anos que Deus me deu,
já
vivi mais da metade.
Não
sou triste nem risonho,
sou
um plantador de sonho,
da
seara da saudade.
6
Fui
fruto da claridade
de
uma noite muito bela.
Só
o céu foi testemunha
dessa
cena de aquarela.
O
chão foi a grande cama,
o
cobertor foi a grama
e
um pirilampo foi vela.
7
Com
essa cena singela
a
vida, outra vida fez.
E,
nove meses passados,
ou
pouco antes talvez,
como
partícula divina,
vim
cumprir a minha sina
de
plantar na aridez.
8
Nasci
em cinquenta e seis,
em
pleno século passado.
Sendo
vinte um de março,
conforme
está anotado.
Num
casebre pequenino,
vim
caminhar no destino
que
Deus me havia traçado.
9
Cheguei
num lugar marcado
pela
pobreza voraz,
um
ambiente perdido
no
meio dos matagais.
Vivíamos
da incerteza,
dos
frutos da natureza,
num
misto de guerra e paz.
10
Como
em tudo que Deus faz,
a
sentença é proferida,
não
permitiu que eu nascesse,
com
fortuna garantida,
e
pra melhor me julgar,
me
fez nascer num lugar,
pra
batalhar pela vida.
11
Deus
me mandou para a vida
com
a sublime missão
de,
sendo um pinto pequeno,
ter
que vencer gavião
e,
sem qualquer aparato,
me
deu força de um gato
pra
ter que matar leão.
12
Seguindo
na contramão,
grandes
batalhas venci
mas,
no caminho da vida,
eu
acho que me perdi
no
deslumbre das paisagens,
que
eram todas miragens
dos
sonhos que não vivi.
13
Meus
castelos construí,
mas
hoje só tem função
de
guardar sonhos perdidos,
vencidos
pela razão.
E
surgem até como afrontas,
para
armazenarem as contas
de
um rosário de ilusão.
14
Se,
com nova encarnação,
outra
vida perpetua,
quero
ser de novo alguém
que
ame o campo e a rua,
mas
contemple o firmamento,
nade
nas ondas do vento
e
namore com a lua...
15
E,
se a vida continua,
quero
deixar como herança
os
meus tesouros de sonhos
que
ficarão na poupança,
como
regalos singelos,
pra
construir os castelos
de
quem cultiva esperança.
16
E,
renascendo criança,
quero
de Deus mais justiça.
Não
vou querer cruz de ferro,
nem
de madeira maciça,
eu
peço ajuda a Jesus
pra
ter uma nova cruz
toda
feita de cortiça.*
*
a última estrofe foi inspirada uma quadra atribuída ao boêmio e
poeta
natalense
“Zé Areia”.
“Prólogo do Chico” são fragmentos de: “Minha Biografia” – 2008 e
“Testamento de um Sonhador”, 2010, revisadas e ampliadas;
Chico
Gabriel – 18 de fevereiro de 2016.
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